Fabio Rosa está trabalhando para levar energia elétrica e desenvolvimento comunitário a áreas rurais empobrecidas.
Fabio foi para um colégio jesuíta, onde desenvolveu sua crença de que as pessoas têm uma responsabilidade para com seus concidadãos. Fábio estudou agronomia e foi convidado pelo novo governo de Palmares do Sul para ser o primeiro secretário da Agricultura da cidade. Foi no início dessa gestão que Fábio percebeu como a eletricidade era importante para os residentes e para reverter o processo de migração rural para urbana.
O "Projeto Luz" de Fabio teve sucesso em sua primeira tentativa de elevar o padrão de vida de famílias rurais de baixa renda levando eletricidade barata para suas casas e fazendas. O primeiro experimento foi realizado em Palmares do Sul, uma comunidade rural do extremo sul do Brasil, o Rio Grande do Sul. Agora está sendo implementado em mais 23 comunidades. O estado possui o maior serviço de eletricidade do Brasil, mas metade de suas 400.000 propriedades rurais não tem eletricidade. Isso significa que até um milhão de residentes rurais do estado não têm eletricidade, refrigeração, encanamento interno, bombas de água para irrigação ou outros aparelhos domésticos e agrícolas comuns. O projeto piloto de Fábio de 1984 a 1988 mudou essa situação para 400 famílias rurais de Palmares e colheu resultados além de suas expectativas. A eletrificação de baixo custo não apenas interrompeu o fluxo de residentes para as cidades, como reverteu o fluxo. Um estudo realizado dois anos após a implantação do projeto mostrou que um em cada três beneficiários era alguém que retornou da cidade para retomar a vida em sua antiga zona rural. Isso se devia em grande parte ao novo serviço elétrico acessível. “No momento em que têm melhores condições de vida no meio rural de origem, as pessoas voltam das cidades”, observa Fábio. Esses resultados corroboram a afirmação de Fábio de que os pobres não são atraídos para a cidade porque ela é melhor; são expulsos do campo porque é insuportável para eles. Com os meios para viver melhor, as pessoas ficam perto de suas raízes rurais. Os participantes do projeto Palmares viviam todos com um salário mínimo ou menos no início do experimento. Em dois anos, metade havia adquirido bombas d'água. Alguns, irrigando suas safras, aumentaram sua renda agrícola em 400% em um ano. Setenta por cento dos beneficiários adquiriram chuveiros com aquecimento elétrico (as temperaturas no sul do Brasil freqüentemente caem abaixo de zero no inverno); 83 por cento tinham geladeiras e 80 por cento tinham televisores em dois anos. Os primeiros resultados do projeto demonstram que o fornecimento de eletricidade beneficia tanto a cidade quanto o campo. Parar e até reverter o êxodo rural significa menos carga para os serviços da cidade. Os agricultores podem ganhar mais vendendo alimentos mais baratos se puderem produzir mais irrigando com bombas elétricas; a refrigeração permite que vendam seus produtos perecíveis, como o leite. À medida que os pequenos agricultores produzem mais e melhoram suas condições econômicas e de vida, eles se tornam maiores consumidores, o que, por sua vez, estimula a indústria e o comércio. A eletrificação de baixo custo não foi ideia do Fábio. Veio dos próprios moradores rurais quando ele os questionou sobre como poderia servi-los como primeiro secretário de agricultura do novo município. “Em reuniões com o povo de Palmares, eles definiam o que queriam e colocavam a eletricidade em primeiro lugar, à frente até das escolas ou melhores condições de trabalho. Eu era um jovem recém-formado na cidade, então a resposta deles foi um choque. Eles simplesmente queriam melhores condições de vida ", diz ele. Ele começou a trabalhar tentando providenciar serviço elétrico para eles, mas rapidamente descobriu que os custos eram proibitivos. A eletrificação do Brasil durante o regime militar dos anos 1960 e 1970 foi feita em grande escala, para fornecer eletricidade às cidades, indústrias e grandes fazendas cujos proprietários podiam pagar pela instalação. “O serviço elétrico era direcionado aos grandes produtores, enquanto os agricultores de baixa renda que moravam logo abaixo das linhas de transmissão e não podiam pagar pela eletricidade”, diz Fábio. Um professor universitário desenvolveu a tecnologia no início da década de 1970 que permitiria a amplificação dos suprimentos elétricos existentes para fornecer serviços elétricos baratos. Mas seu trabalho foi ignorado ou propositalmente desconsiderado por aqueles com interesses investidos em serviços elétricos caros e em grande escala. Na busca por energia elétrica barata dos moradores, Fábio descobriu o professor e sua tecnologia. Foi utilizado com excelentes resultados no experimento Palmares, que foi financiado e até premiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A tecnologia hoje está sendo empregada a tal ponto que a indústria agora produz um suprimento abundante de equipamentos especiais necessários para transformar e fornecer eletricidade. Devido ao processo de transformação e ao fato de que os beneficiários geralmente moram perto das linhas de transmissão existentes, a eletricidade pode ser fornecida pela metade do custo dos meios tradicionais. O financiamento tornou-se o principal problema para a expansão do projeto. O novo governo do Brasil cortou as linhas de crédito usadas pelo banco nacional de desenvolvimento para ajudar as pequenas propriedades. Embora o projeto tenha pago todos os empréstimos e se torne autossustentável após a fase inicial, o financiamento está garantido agora apenas para 4.000 das 200.000 famílias. Fábio está entrando em contato com os ministros da Agricultura e Ação Social para restabelecer as linhas de crédito. Seu sucesso e elogios do banco de desenvolvimento nacional confirmam seus pedidos.
A partir de 1970, houve muitos investimentos em eletrificação rural em todo o Brasil. Crédito fácil e recursos abundantes permitiram que a Electobras, agência federal de energia, e empresas privadas com concessões estaduais implementassem um modelo de distribuição de energia que utilizava tecnologia altamente sofisticada e cara. Como consequência, os médios e pequenos agricultores não conseguiram comprar eletricidade. Em 1972, o professor Ennio Amaral, da Escola Técnica Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, propôs um sistema de eletrificação rural mais barato e mais acessível, baseado no modelo dos países desenvolvidos. Ele foi rejeitado por interesses energéticos federais e estaduais. O trabalho de Amaral foi ignorado por mais de uma década. Enquanto isso, as cidades brasileiras incharam com o êxodo de residentes rurais pobres, pressionando os já inadequados serviços urbanos e condições sociais. Embora o êxodo rural no Brasil seja tratado como uma consequência "natural" do progresso, Fábio argumenta que a fuga para as cidades é mais um fenômeno de expulsão do que de êxodo voluntário. As pessoas deixam suas casas porque há pouco ou nenhum desenvolvimento nas regiões rurais do Brasil. No início da década de 1980, as ideias do Prof. Amaral foram revividas por Fábio na pequena comunidade de Palmares do Sul. Houve forte resistência por parte de interesses energéticos federais, estaduais e privados e essa resistência continua até hoje. Mas Fabio acredita que a oposição vai diminuir (como já aconteceu em alguns casos) porque seu programa mostra que as pessoas cuja renda melhora logo se tornam consumidores e produtores ativos no mercado. Seu programa demonstra as possibilidades e benefícios de trazer cidadãos marginalizados para a economia como participantes ativos e beneficiários.
O Projeto Light visa fornecer eletricidade barata a cerca de 10.000 famílias rurais de baixa renda em quatro anos; cinco anos depois, sua meta é eletrificação barata para outras 26.000 famílias. Isso envolve não apenas torná-lo tecnicamente viável, mas também contornar obstáculos políticos, econômicos e burocráticos. O envolvimento da comunidade é vital para o sucesso, portanto, as reuniões preliminares determinam se a comunidade deseja prosseguir com o projeto. Uma vez que a comunidade se compromete com o projeto, os governos locais conduzem uma pesquisa das necessidades de eletrificação e os organizadores trabalham para incutir um senso coletivo positivo entre os participantes. Os líderes eventualmente surgem dentro dos grupos. A comunidade executa o projeto e, por fim, é formada uma associação comunitária.