Gilda Maria Pompeia, 28, trabalha em São Paulo desenvolvendo cursos de prevenção de drogas para professores do ensino médio.
Pompeia diz que se sentiu chocada, quando era uma jovem professora, a maneira autoritária com que muitos professores se relacionavam com os alunos. Por meio de seu relacionamento mais franco com os alunos, Pompeia se interessou pelos motivos pelos quais alguns usavam drogas. Suas discussões inspiraram os esforços de Pompeia para trazer as questões mais abertamente e dissipar preconceitos e falsas noções sobre o uso e usuários de drogas.
Gilda Pompeia acha que talvez a técnica mais importante no ensino de conscientização sobre as drogas para professores do ensino médio é incentivá-los a se colocarem no lugar de seus alunos, tentarem ver o mundo da perspectiva do adolescente. "Como adultos que trabalham com adolescentes, podemos ficar a saber a diferença entre nossas palavras faladas e como vivemos nossas vidas ", diz Pompeia. “Nós nos descobrimos voltando à velha expressão, 'Faça o que eu digo, não faça o que eu faço'.” Professores do ensino médio que fazem seu curso de conscientização sobre drogas discutem os preconceitos da sociedade - e os deles próprios - em relação ao uso de drogas. Freqüentemente, tomam consciência de atitudes rígidas que bloqueiam sua compreensão dos alunos e do uso de drogas. Um exemplo são as respostas desconfortáveis que ela sente quando sugere que os adolescentes às vezes usam drogas apenas para ter prazer. “As pessoas não veem as drogas como prazer, mas como pecado”, diz Pompeia. Os adultos costumam presumir que um fumante de maconha também é um ladrão ou tem problemas psicológicos profundos. "Fico perguntando se isso é inveja do prazer de outras pessoas. Sinto uma grande resistência, uma necessidade de justificar o uso de drogas como relacionado a problemas, não prazer ", diz Pompeia. Ela incentiva a orientação dos adolescentes para os prazeres saudáveis, em vez de condená-los, reprimi-los ou presumir que usem drogas para escapar de problemas. Pompeia recentemente deu aos professores de seu curso o mesmo questionário que tem dado a alunos do ensino médio, perguntando: por exemplo, quais das seguintes substâncias você considera drogas ou o que você acha das pessoas que usam drogas. "Os resultados mostram que os professores não conhecem o mundo dos alunos", diz Pompeia. Eles exploram esse mundo no curso , que aumentou de 30 para 40 horas para abranger mais material. Pompeia diz que o curso não é um conjunto fixo de ideias, mas fluido e dinâmico, adaptando-se a novos insights e informações. O uso de drogas não é uma doença, diz ela, mas um fenômeno cultural e social muito subjetivo. Além do moralismo, outro desafio para o projeto de Pompeia é a decadência do sistema educacional brasileiro, resultado de décadas de abandono agravado nos últimos anos pela crise econômica. Os professores recebem salários baixos e sofrem falta de prestígio, apesar de sua educação universitária. "A maioria está tão desanimada que só quer cumprir a obrigação mínima e ir para casa assistir à novela", diz Pompeia. Poucos se sentem motivados a investigar questões sociais, como o uso de drogas, que afetam a vida de seus alunos. Mas Pompeia diz que não pode deixar de seguir seu projeto na esperança de que o sistema educacional do Brasil melhore. "Eu ficaria esperando o resto da minha vida", diz ela com uma risada. Os sistemas escolares estão começando a solicitar o curso de Pompeia, e ela está solicitando a ajuda de professores que o concluíram. A polícia de São Paulo também pediu sua ajuda. A polícia há muito oferece um curso de conscientização sobre drogas baseado mais nos aspectos morais e criminais do uso de drogas. Mas agora eles estão pedindo a Pompeia que compartilhe sua abordagem mais aberta com eles, um sinal de que as atitudes podem estar mudando. A mídia brasileira e o novo governo do Brasil têm dado alguma atenção ao uso de drogas entre os jovens, mas Pompeia sente que as questões ainda são amplamente ignoradas. A maior parte do material escrito sobre o assunto é publicado em inglês ou francês, refletindo o desinteresse dos pesquisadores brasileiros. Para Pompeia, os momentos mais animadores são aqueles em que os professores que cursam seu curso não querem que termine, não ficam satisfeitos e pedem para continuar além de suas 40 horas.
Embora o uso de drogas entre os jovens no Brasil seja generalizado, a conscientização e a compreensão sobre as drogas não estão, muito menos no contexto social e psicológico que leva ao uso das drogas. Existem poucos programas de prevenção e uso de drogas. Geralmente, qualquer discussão sobre drogas é automaticamente consignada como algo relacionado aos militares, polícia, criminalidade etc. De fato, quando, como uma jovem professora, Pompeia tentou pela primeira vez contratar um palestrante em sua escola, o diretor da escola rejeitou sua ideia de convidar uma psicóloga para falar sobre o uso de drogas como um absurdo, dizendo que ela deveria, em vez disso, convidar alguém do exército. As leis sobre drogas do governo federal tratam muito mais da repressão e do tratamento de criminosos do que da prevenção. Existem poucas iniciativas que tentam lidar com a questão ao nível das escolas. Por causa desse silêncio e ignorância generalizados, as ruas do Brasil estão cheias de dependentes químicos, muitos deles crianças, que não têm onde buscar ajuda e orientação, mesmo que queiram.
Pompeia propõe chegar aos adolescentes, faixa etária com maior incidência de uso de drogas, por meio de seus professores que olharam as questões de forma não julgadora durante o curso de 40 horas. O curso é organizado em sessões que exploram o conceito de o que é droga, classificação das drogas, histórico do uso de drogas, dinâmica familiar e de grupo e estudos de caso discutidos por psiquiatra, aspectos negativos das anti-campanhas, aspectos legais e criminais discutidos por advogados e policiais e propostas de prevenção de cada participante. O debate e a discussão aberta são incentivados. O curso tem como objetivo ajudar os professores a adaptar sua compreensão do uso de drogas por adolescentes a técnicas de prevenção personalizadas dentro da sala de aula. A Pompeia trabalha por meio do Centro de Estudos de Farmacodependência e Prevenção sem fins lucrativos que ela ajudou a fundar em São Paulo. O Centro patrocina o curso Prevenção ao Uso de Drogas para Jovens em Idade Escolar, ministrado a professores de escolas públicas e privadas. Governos locais e distritos escolares em todo o estado de São Paulo hospedaram ou solicitaram informações sobre o curso.