Nasser Youssef Nasr, 35, agrônomo do pequeno estado costeiro do Espírito Santo, está adaptando uma importante descoberta às condições brasileiras e divulgando-a aos agricultores brasileiros. Ele está mostrando que, ao cultivar plantações em meio a uma mistura de cobertura vegetal nativa e ervas daninhas, os agricultores podem limitar os danos das pragas sem produtos químicos e multiplicar os rendimentos.
Nascido em 1955, filho de imigrantes libaneses no estado do Rio de Janeiro, Nasser mudou-se com a família para Cachoeira de Itapemirim ainda criança. Como um jovem estudante na escola de agronomia local, Nasser recebeu uma educação tradicional. Ele começou a questionar esse treinamento em 1983, quando seu tio, um plantador de café, ficou cego e mais tarde morreu por causa de uma vida inteira de exposição a pesticidas e outros produtos químicos agrícolas. Quando o primeiro filho de Nasser nasceu no mesmo ano, ele decidiu que havia chegado o momento de explorar maneiras sem produtos químicos de cultivar alimentos. O sucesso dos métodos orgânicos de que ele foi pioneiro ganhou grande aclamação de Nasser entre ambientalistas e agrônomos. O ecologista Jose Lutzemberger, que o presidente Fernando Collor nomeou recentemente como ministro do Meio Ambiente, saudou as técnicas de Nasser como "o nascimento da agricultura e da agronomia brasileiras".
Nasser encontrou o germe dessa ideia simples, mas potencialmente muito importante, seis anos atrás. O prefeito da cidade de Cachoeira de Itapemirim (pop. 145 mil), localizada ao norte do estado do Rio de Janeiro, no Espírito Santo, contratou Nasser para plantar uma horta em um terreno municipal com o fornecimento de frutas e verduras para a merenda escolar. Armado com os métodos tradicionais que aprendera na escola de agronomia, Nasser limpou a terra e começou a plantar. Ele aplicou herbicidas químicos, pesticidas e fertilizantes. Mas quando fez sua primeira safra, Nasser ficou desapontado com os baixos rendimentos. Além disso, sensibilizado por uma tragédia familiar, ele começou a se preocupar com o fato de as crianças que ele deveria alimentar estar consumindo os produtos químicos tóxicos que ele usava para cultivar suas plantações. Essa preocupação levou Nasser à ação. Nasser estudou a literatura sobre agricultura orgânica, visitou projetos de agricultura alternativa e começou a experimentar novas técnicas. Seu insight central veio em meio a esse período de busca e experimentação. Ao limpar a vegetação nativa - manualmente ou com herbicidas - antes de plantar uma safra, Nasser viu que estava eliminando o alimento natural dos insetos. Sem nada melhor para comer, os insetos atacaram suas plantações de alimentos, forçando Nasser a usar pesticidas químicos para controlar a "praga". Esse primeiro insight levou rapidamente a outros. Deixar a vegetação nativa no local antes do plantio eliminaria a maior parte da necessidade de herbicidas, e permitir que os insetos se alimentassem dessa vegetação (sua dieta habitual) tornaria os pesticidas obsoletos. Ao colocar essas ideias em prática, Nasser ficou encantado ao ver seus custos de produção caírem radicalmente. Substituir fertilizantes químicos caros por matéria orgânica, grande parte dessa cobertura vegetal nativa, ajudou a reduzir os gastos em 40 a 50 por cento. O jardim de Nasser exigia metade da água, já que a vegetação nativa e os fertilizantes orgânicos ajudavam o solo a reter a umidade. Além disso, a cobertura total do solo praticamente eliminou a erosão. Os custos de mão-de-obra também caíram porque a parcela exigia apenas uma remoção mínima de ervas daninhas e aplicação de produtos químicos. O sucesso mais satisfatório de Nasser e o que o ajudou a vender suas técnicas para fazendeiros de todo o estado, alta produtividade. Hoje, a horta de 10 hectares de Nasser fornece frutas e vegetais suficientes para alimentar as pessoas nas escolas, hospitais, abrigos e creches da cidade. A produção de frutas cítricas, tomates, cenouras e outros produtos é várias vezes superior à média nacional. Além disso, as colheitas estão crescendo em quantidade a cada ano, em vez de diminuir, e as colheitas são notavelmente resistentes a doenças. Além disso, ao aumentar a produtividade de seu pequeno lote, Nasser liberou espaço para diversificação. Ele agora planta 10 safras diferentes, onde apenas duas ou três cresciam antes. O movimento da agricultura alternativa tem obtido sucesso crescente em conscientizar os agricultores e consumidores sobre os riscos da agricultura industrial. No entanto, apesar de uma série de passos à frente, como o manejo integrado de pragas (um inseto elimina outro), os agricultores muitas vezes sentem que não há alternativas suficientes. A abordagem e o programa de educação de Nasser são direcionados diretamente a essa necessidade central. Conforme a notícia sobre o método de Nasser se espalhou, agricultores de todo o estado o procuraram para obter conselhos e informações. Um grupo, que adotou as técnicas com sucesso em Cachoeira de Itapemirim, formou uma cooperativa que produz frutas e verduras sem toxinas para o mercado local. Satisfeito com o sucesso de suas técnicas localmente, Nasser agora quer levar a ideia a agricultores, agrônomos e grupos ambientalistas de todo o Brasil.
O uso massivo de pesticidas, herbicidas e outros produtos químicos intencionalmente tóxicos começou no Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Foi parte de um esforço geral para modernizar a agricultura, que incluiu a introdução de sementes "milagrosas", fertilizantes químicos e tecnologias importadas. Hoje, de acordo com um estudo, os agricultores brasileiros usam o dobro da média mundial de produtos químicos para produzir suas safras. No entanto, embora grupos ambientalistas e agrônomos com mentalidade ecológica tenham denunciado a prática por anos, o padrão só recentemente começou a mudar. Muitos agricultores perceberam que décadas de aplicação de pesticidas e outros produtos químicos tóxicos nas plantações não contribuíram para aumentar, mas sim para diminuir, seus rendimentos. A prática acelerou o esgotamento do solo em muitas regiões do país, e as terras freqüentemente se desgastam depois de apenas alguns anos de uso. As colheitas decrescentes e os custos crescentes dos insumos forçaram muitos pequenos agricultores a abandonar a terra, e os trabalhadores agrícolas que manuseiam os produtos químicos freqüentemente sofrem de problemas de saúde crônicos e graves. Os consumidores sofrem tanto com os preços mais altos quanto com os alimentos com ingredientes químicos. Apesar desses efeitos negativos cada vez mais evidentes da dependência química da agricultura, as empresas químicas e as escolas de agronomia brasileiras ainda defendem esse tipo de agricultura. Eles ensinam agricultores e estudantes de agronomia a ver a vegetação nativa e os insetos como inimigos a serem destruídos, certamente não como aliados.
Nasser está trabalhando, segundo ele, em dois empregos. Primeiro, ele continua a desenvolver sua nova abordagem. Não é tão simples quanto deixar o que quer que cresça à vontade. Os vegetais precisam de um começo suficiente para se estabelecer em meio à cobertura natural do solo. Suplementos de fertilizantes naturais, por exemplo, em torno das raízes de árvores frutíferas recém-plantadas, ajudam. Em segundo lugar, ele está trabalhando duro para divulgar suas inovações. A demonstração concreta é o método favorito e mais eficaz de Nasser. Assim que os agricultores vêem seus métodos em ação, eles próprios rapidamente os colocam em prática. O jardim municipal de Cachoeira de Itapemirim está se tornando uma espécie de atração turística: segundo Nasser, milhares de pessoas já visitaram o projeto. A maioria dos visitantes são agricultores, mas estudantes de agronomia e agentes de extensão do governo também foram a Cachoeira para aprender sobre as idéias de Nasser. Conseqüentemente, um componente crescente da estratégia de disseminação de Nasser será acompanhar e fornecer assistência técnica aos agricultores, cooperativas e municípios que desejam implementar seus métodos em suas áreas. Nasser também planeja disseminar suas técnicas em um segundo nível, explorando seus contatos entre a crescente rede de grupos ambientalistas, cooperativas, ONGs e escolas de agronomia interessados em tornar a agricultura alternativa uma realidade no Brasil. Nasser está terminando um livro e planeja produzir um videoteipe que explicará seus métodos de cultivo em uma linguagem simples e acessível. Ele pretende trabalhar em estreita colaboração com entidades de todo o país que possam divulgar os materiais, usando a infraestrutura da Fundação Juqira Candiru, grupo ambientalista que ele cofundou.