Para Suely Carvalho, a solução para um parto mais saudável e feliz, principalmente entre os mais desfavorecidos, está na utilização de procedimentos naturais com a ajuda de parteiras bem treinadas. Suely, ela mesma uma parteira de enfermagem, planeja revitalizar essa profissão moribunda criando uma forte rede desses profissionais e criando centros de parto projetados para fornecer serviços apropriados para mulheres em trabalho de parto.
Suely nasceu no Paraná, onde se formou como enfermeira e parteira hospitalar. Ela se casou e teve filhos muito cedo, e teve que dividir seu tempo e energia entre continuar sua educação, criar seus filhos e ganhar a vida. Há dez anos, Suely mudou-se para Pernambuco. Incapaz de ganhar a vida com sua profissão, ela planejou uma carreira de vendedor autônomo que forneceria uma renda e horários de trabalho flexíveis para que ela pudesse se dedicar ao trabalho voluntário com programas de saúde em comunidades muito pobres e no movimento de mulheres - especialmente em comitês e organizações que trabalham para combater a violência contra as mulheres. Ela foi cofundadora de uma importante organização antiviolência e desempenhou um papel de liderança em várias outras.
Suely assistiu centenas de partos em sua profissão e aprendeu a identificar as necessidades físicas e psicológicas muito específicas das mulheres em trabalho de parto - necessidades que a medicina moderna tende a mascarar e negligenciar. Suely, ainda jovem enfermeira obstétrica de um hospital do Paraná, acompanhava os estágios finais de até 14 partos por plantão. Ela observou como as mulheres se sentiam deslocadas em um ambiente hospitalar e como estavam assustadas e psicologicamente despreparadas para um fenômeno para o qual a natureza as havia projetado fisicamente. Enquanto acompanhava um parto em seus vários estágios, Suely tentava acalmar a mãe, massageando sua barriga e conversando baixinho com ela para deixá-la à vontade. Ela começou a fazer pequenas mudanças nos procedimentos hospitalares que fizeram grandes diferenças no conforto das mães: exercícios respiratórios aliviaram as contrações e cólicas; massagens vaginais com pomadas naturais, como óleo de gergelim, facilitaram a passagem do feto emergente; e se a mãe estivesse meio sentada no momento da expulsão, a dilatação aumentava em dois centímetros inteiros. Para promover essas práticas, Suely quer fortalecer o grupo de profissionais há muito vinculados a essa tradição do parto - as parteiras. Para isso, ela está formando agentes de saúde como parteiras, identificando parteiras aposentadas e aprendendo com elas (reciclando seus saberes), e criando uma rede nacional de parteiras. À medida que essa rede ganha força, Suely vai estimular a criação de “centros de parto, "especialmente em áreas urbanas pobres e áreas rurais remotas, onde hospitais e serviços são escassos. Um "centro de parto" é uma casa administrada por uma parteira, com todo o equipamento necessário para o parto natural e também para os cuidados pré e pós-natal. Um desses centros de parto pode servir uma população de aproximadamente 30.000. Suely também planeja persuadir os hospitais existentes a organizar o mesmo tipo de serviço e, eventualmente, incluir parteiras no sistema nacional de saúde do Brasil.
Há uma geração, no Brasil, a maioria dos partos era assistida por parteiras leigas. Hoje, 99 por cento de todos os partos ocorrem em hospitais. Essa rápida mudança nos eventos se deve a vários fatores. As parteiras nunca foram consideradas "profissionais" no sentido moderno. No Brasil, como em muitos outros países, o "ofício" da obstetrícia é envolto em mística, provavelmente um resquício da Idade Média, quando as parteiras eram frequentemente temidas por conhecerem o "segredo da vida". Além disso, sendo um ofício de mulher, a mística foi transportada para os tempos modernos na forma de preconceito. No entanto, ainda recentemente, a parteira leiga era considerada uma pessoa "especial" e, como tal, nunca era paga por seus serviços, recebendo, em vez disso, presentes. Uma geração atrás, quando as mulheres se juntaram à força de trabalho de uma nação em processo de industrialização e começaram a ganhar salários, o ofício, uma vez passado das mulheres mais velhas para as mais jovens, começou a desaparecer. As demais parteiras leigas estão hoje na casa dos sessenta e setenta anos. Enquanto isso, o sistema médico nacional foi centralizado e "modernizado", mas os pobres, é claro, arcam com o peso de suas muitas inadequações. As estatísticas relacionadas à entrega se deterioraram drasticamente. O Brasil é campeão mundial em intervenções cirúrgicas durante o parto; as taxas de morbidade materna / infantil devido a riscos hospitalares estão entre as mais altas do mundo e as taxas de mortalidade materna são assustadoras (200 mortes para cada 100.000 nascimentos). Tudo isso representa enormes custos para o sistema de saúde.
A estratégia de Suely é multifacetada. Primeiramente, ela está capacitando agentes de saúde, identificando e retreinando parteiras aposentadas em oito cidades pernambucanas. É nesta área que ela começará a se instalar. Em outra frente, ela trabalha com o Movimento Nacional dos Agentes de Saúde, grupo que representa os agentes de saúde em sua luta pelo reconhecimento oficial como categoria (por exemplo, por legislação salarial, benefícios sociais, etc.). Agentes de saúde, geralmente líderes comunitários com algum treinamento paramédico, passaram a formar um elo vital entre as comunidades pobres e os programas de saúde do governo, e Suely é responsável por estender essa proposta para incluir parteiras leigas. Os agentes de saúde formados por Suely passarão a ser parteiras e as parteiras leigas serão consideradas agentes de saúde. Ao conquistar o status profissional para parteiras, o que implica reconhecimento governamental, salários mínimos estabelecidos e benefícios de aposentadoria, Suely está no bom caminho para garantir a respeitabilidade e o renascimento dessa profissão consagrada pelo tempo. local, Suely trabalhará por meio dele para estabelecer centros de parto, especialmente em comunidades pobres e em áreas rurais.