Daniel Gerardo Raviolo, um argentino que mora no Brasil, estabeleceu uma joint venture, publicação e publicidade para boletins de pequenas comunidades e organizações sociais.
Daniel Gerardo Raviolo chega a este projeto com anos de compromisso e experiência com a imprensa comunitária. Exilado da Argentina natal por seus envolvimentos sociais durante a ditadura militar, obteve asilo político na França, onde editou o boletim da Comissão Argentina de Direitos Humanos. Por meio desse trabalho, Daniel conseguiu divulgar informações importantes, mas muitas vezes ocultas, sobre os flagrantes abusos dos direitos humanos que marcaram a "Guerra Suja" da ditadura. Em 1987, ganhou uma bolsa do Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento, que o trouxe para Fortaleza, no nordeste do Brasil. Lá, ele trabalhou em colaboração com associações de residentes em comunidades pobres, localizando e entrevistando residentes mais velhos em um projeto de história oral que tentava capturar e registrar as ricas experiências de vida de uma população frequentemente ignorada na historiografia convencional. Durante essa colaboração com associações de moradores, alguns membros, cientes do trabalho de Daniel na Argentina e na França, o abordaram com interesse em criar um jornal comunitário. Logo as comunidades vizinhas ficaram interessadas em explorar esta nova ferramenta de disseminação de informações. Seu trabalho começou a se espalhar por Fortaleza - tanto, aliás, que conseguiu reunir essas iniciativas comunitárias no I Encontro de Imprensa Comunitária do Estado do Ceará, em março de 1990. Além de seu trabalho com jornais comunitários, Daniel produziu quinze programas de rádio sobre a África para serem transmitidos no rádio durante a comemoração do centenário da abolição da escravidão no Brasil em 1988. Ele também organizou uma exposição sobre arquitetura popular nordestina no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.
Desde o retorno do Brasil à democracia, inúmeros grupos comunitários, associações de moradores e organizações de mudança social surgiram. Esses grupos freqüentemente não são notificados na mídia principal e têm dificuldade em desenvolver e pagar por seus próprios boletins e periódicos. Daniel encontrou uma solução por meio do estabelecimento de uma rede de publicação cooperativa e newspool para jornais comunitários e de movimentos sociais, reunindo os recursos de cerca de 25 organizações de base (até agora) em sua cidade natal, Fortaleza. Ao produzir publicações de forma centralizada, os gerentes das diferentes organizações são poupados de muitos dos problemas e custos de produção de seus próprios boletins informativos. Daniel acredita que essa abordagem cooperativa vai permitir aos pequenos boletins de base uma viabilidade econômica e uma maior alavancagem de divulgação, o que por sua vez deve dar ao movimento popular uma voz muito maior, tanto com seus constituintes imediatos quanto com os formuladores de políticas.
A grande mídia do Brasil é estritamente controlada. A rede TV Globo, a maior do Brasil e a quarta maior do mundo (depois de ABC, CBS e NBC), detém setenta por cento da audiência nacional todas as noites. A Editora Abril, o principal conglomerado de mídia impressa do país, controla 54% de todas as vendas de revistas. Estimulados por empréstimos e legislações favoráveis durante os anos da ditadura, esses conglomerados de mídia desenvolveram um fluxo de informações de cima para baixo, com produção e distribuição nacionais centralizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esse padrão estreito de propriedade monopolística deixou os telespectadores com poucas informações e menos acesso a ideias alternativas ou visões de mundo. Também corrói as tradições culturais locais e dificulta muito a disseminação de notícias e informações locais. É nesse sentido que a grande mídia não é simpática nem aberta às perspectivas e necessidades das organizações populares que tem incentivado os grupos locais a criar uma imprensa alternativa. No entanto, esse é um trabalho difícil e geralmente malsucedido. É difícil levantar os fundos necessários, especialmente com publicidade, e mesmo um pequeno boletim informativo consome muito tempo.
A estratégia de Daniel tem três vertentes: primeiro, os jornais participantes imprimirão em massa suas publicações em uma cooperativa que visa reduzir os custos de compra, impressão e publicação, que têm sido um impedimento crítico para a sobrevivência a longo prazo dos jornais comunitários. Em segundo lugar, os jornais participantes reunirão histórias. Daniel prevê um banco de dados para o qual cada jornal participante contribuirá com pelo menos um artigo de interesse geral por mês. Dessa coleção, os jornais contribuintes poderão escolher histórias para publicação em seus próprios jornais. Juntos, eles podem atrair bons escritores que prepararão regularmente artigos de qualidade sobre assuntos que provavelmente interessarão aos outros membros. Os tópicos vão desde cuidados de saúde infantil até a história das tradições teatrais locais da área e AIDS. O editor do boletim informativo de cada organização envia folhas de layout e texto completo para os elementos não extraídos dos artigos gerais comuns. Mais ou menos um dia depois, os jornais da comunidade aliada de Daniel distribuem os boletins impressos para suas organizações. Isso não apenas reduzirá a tensão de compor a publicação - muitas vezes um obstáculo formidável para editores baseados na comunidade carregados com vários outros trabalhos e compromissos - mas também aumentará a comunicação entre grupos comunitários, associações de residentes e coletivos culturais. Terceiro, Daniel estabelecerá uma agência de publicidade que organizará a venda centralizada do espaço do jornal para publicidade por empresas interessadas. Daniel, em última análise, espera um número de leitores cumulativo igual ao dos principais jornais comerciais de Fortaleza. Ao abordar anunciantes, ele pode argumentar que seus leitores provavelmente lerão seu boletim informativo local ou de interesse especial com mais cuidado do que o leitor médio de um jornal em geral. Sua organização central comercializaria esse espaço para anunciantes em potencial e dividiria a receita com os jornais participantes. Isso, ele acredita, poderia vir a cobrir oitenta e cinco por cento dos custos de produção. Daniel também estabelecerá workshops de treinamento e patrocinará seminários para troca de informações sobre o estabelecimento e operação de jornais comunitários. Os workshops não abordarão apenas questões logísticas e organizacionais, mas também terão como objetivo o desenvolvimento de novas linguagens jornalísticas que sejam mais eficazes para alcançar públicos de base. Daniel começou a trabalhar em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, no norte do Brasil, mas pretende estender seu modelo para outros municípios. Mais tarde, ele pretende aplicar os mesmos princípios à mídia eletrônica.