Ashoka comemora e celebra a vida e o trabalho deste Ashoka Fellow falecido.
Paulo Henrique Longo está ajudando homens prostitutos homossexuais, maiores transmissores da AIDS no Brasil, a lidar com os fatores psicológicos envolvidos em seu estilo de vida e nas práticas sexuais inseguras. Como nunca pode haver psicólogos suficientes para realizar essa tarefa, um paciente de cada vez, Paulo é o pioneiro no atendimento psicológico de autoajuda comunitário.
Como psicólogo e profissional de saúde, Paulo Henrique Longo sempre se esforçou para compreender as questões de saúde em seu contexto social mais amplo, a fim de evitar a estreita perspectiva clínica que tantas vezes domina o pensamento de saúde. A segunda pessoa em sua família a sofrer de diabetes , Paulo cresceu sensível às questões de saúde. Enquanto estudante na Universidade da Bahia, ele se envolveu em projetos de saúde comunitária que incorporavam métodos alternativos para alcançar populações pobres, como o ensino de higiene por meio do teatro popular. Ao se mudar para o Rio de Janeiro, Paulo se envolveu no trabalho de AIDS por meio de um estágio na o Hospital Gaffre e Guinle, onde se encarregava de fornecer aconselhamento psicológico a pacientes com AIDS. Seu envolvimento cresceu quando começou a trabalhar como voluntário na organização de serviços de AIDS, GAPA (Grupo de Apoio a Pessoas com AIDS), para a qual deu palestras em escolas, empresas e centros comunitários. O trabalho de Paulo, seja em hospitais, comunidades carentes ou Os grupos de apoio à AIDS sempre se caracterizaram pela busca pela compreensão da saúde pessoal como algo inextricavelmente ligado a toda a personalidade do paciente, experiência de vida e interação com a sociedade. Ele é uma rara personificação da crença de que, para se introduzir mudanças duradouras na saúde pública, é preciso mostrar a importância de trabalhar em profundidade e de forma cuidadosa com as pessoas em risco.
Prostitutos homossexuais masculinos são um dos grupos de maior risco no Brasil, mas têm sido amplamente ignorados por estudos feitos sobre a transmissão da AIDS no Brasil. O único estudo que se concentrou neste grupo descobriu que quarenta e três por cento eram HIV positivos. Em seu trabalho com AIDS em geral, e com prostitutos em particular, Paulo sugere algumas razões pelas quais este grupo de alto risco pode ser resistente à prática de sexo seguro - a única esperança real agora para controlar a propagação da AIDS. Normalmente, essa forma de prostituição envolve o contato diário com vários parceiros de alto risco. E, acrescenta Paulo, os clientes muitas vezes estão dispostos a pagar preços mais altos se o sexo que compram não for "prejudicado" pelo uso do preservativo. Como a maioria dos prostitutos homossexuais masculinos passou a praticar a venda de sexo por necessidade econômica, esse incentivo financeiro às vezes é muito tentador. Paulo está empreendendo a difícil tarefa de tentar fazer com que os prostitutos pratiquem sexo seguro por meio de um programa de aconselhamento individualizado que constrói a auto-estima desses jovens. Os conselheiros de Paulo não são psicólogos ou profissionais médicos, mas sim "educadores" principalmente da comunidade que todas as noites "saem às ruas", conversando com as prostitutas onde trabalham, dando-lhes preservativos e informando-as sobre a disponibilidade de cuidados de saúde. Os membros estabelecidos dessa comunidade aconselham os recém-chegados, e aqueles que conseguem mudar seu padrão de vida incentivam outros a fazê-lo. A natureza não coercitiva e não julgadora da abordagem de Paulo reforça seu tema central de que essas pessoas devem assumir o controle de suas próprias psiques e vidas. Sua técnica para organizar cuidados psicológicos de autoajuda comunitários é em si uma grande inovação, cujas implicações se estendem muito além desta comunidade.
O Brasil é um dos focos de AIDS que mais cresce no mundo. Embora o número de brasileiros que atualmente são HIV positivos seja estimado em 700.000, as estimativas para o ano de 2000 sugerem que até 5,7 milhões de pessoas serão infectadas, com até 260.000 já manifestando plenamente doenças relacionadas ao HIV. Os padrões demográficos da doença no Brasil são bem diferentes do que se viu nos Estados Unidos na última década. Enquanto a incidência de mulheres americanas que contraem a doença por meio de relações sexuais aumentou apenas quatro por cento entre 1988 e 1990, no mesmo período no Brasil a AIDS transmitida por meio de relações sexuais aumentou dez por cento entre as mulheres. Essa disparidade se deve em grande parte ao fato de que a bissexualidade é mais comum no Brasil do que nos Estados Unidos. No Brasil, como em outros lugares, os bissexuais masculinos representam um dos grupos-alvo mais importantes para as campanhas de prevenção e educação da AIDS, pois muitas vezes são a "ponte de transmissão" para as mulheres. Prostitutos masculinos, por exemplo, muitas vezes têm namoradas ou esposas, mas se envolvem na prostituição masculina por falta de outras opções. Outro problema foi a campanha governamental de informação sobre a AIDS, que tem sido amplamente baseada no tema "AIDS mata" e depende do susto táticas para promover um comportamento seguro. Paulo sugere que essa abordagem moralista tem sido ineficaz entre as prostitutas por causa dos outros riscos que enfrentam diariamente por parte da polícia e de sua clientela.
Embora existam alguns programas para mulheres prostitutas, a iniciativa "Pegação" de Paulo é a primeira que foi projetada para suas contrapartes masculinas. Paulo atribui isso ao fato de a prostituição masculina, embora generalizada, ser mais oculta do que o comércio sexual feminino. Enquanto a maioria dos programas enfatiza campanhas de informação em larga escala, o Projeto Pegação atua de forma individualizada, utilizando um modelo de aconselhamento. Mudanças no comportamento não ocorrerão até que o indivíduo esteja convencido de que deve ajudar a si mesmo para se salvar. Nesse sentido, Paulo não se interessa apenas em como dar informações sobre sexo seguro, mas também em trabalhar com os clientes na construção da autoestima para que eles próprios optem pelo uso do preservativo e, em última instância, pela sobrevivência. Ele está convencido da necessidade de desenvolver novas abordagens para encorajar práticas sexuais seguras, especialmente porque os estudos revelam continuamente que a maioria das pessoas está adequadamente informada sobre a prevenção da transmissão do vírus da AIDS, mas ainda pratica sexo inseguro. tome cuidado ao abordar as prostitutas como tal, muitas vezes oferecendo-lhes uma bebida ou um sanduíche ou simplesmente uma chance de conversar. A informação que eles fornecem não é moralista nem crítica, mas meramente educacional e prática. Eles são informados sobre os serviços que o Projeto Pegação oferece, como distribuição de preservativos ou atendimento médico, e recebem informações confiáveis que devem estimular os jovens a se protegerem. A preocupação consigo mesmo leva à auto-estima. Essa verdade é reforçada pelos educadores, que têm contato pessoal com as prostitutas, muitas vezes como amigos, no dia a dia. Espera-se que este programa de aconselhamento individualizado leve, a longo prazo, as prostitutas a encontrarem um estilo de vida alternativo. Paulo espera que seu trabalho sirva para engendrar uma discussão em larga escala na sociedade brasileira sobre a prostituição homossexual masculina, que tem até agora foi ignorado. Ele busca ampliar a discussão e diversificar as abordagens do Brasil em relação à crise da AIDS por meio de sua participação ativa no debate sobre políticas, bem como conversando com outras organizações de serviços de AIDS, autoridades de saúde pública e grupos que trabalham com jovens pobres (muitas vezes a fonte população para a prostituição masculina). Paulo também apresenta programas regulares de rádio e televisão, durante os quais responde a perguntas sobre sexualidade, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis.